Mensagem da Quaresma do Bispo de Viseu
“Caminhar juntos, alimentados pelo Pão da Vida”
Queridos irmãos e irmãs!
A Quaresma é o “tempo favorável da salvação”, é o tempo da renovação interior, da conversão pessoal e comunitária, que nos conduz à Páscoa de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, imolado na Cruz como o verdadeiro “Cordeiro de Deus”, que tira o pecado do mundo.
Ide pelos caminhos e encruzilhadas da Igreja e do mundo e dizei a toda a gente: a mesa está preparada para a refeição e tem pão em abundância para todos. Vinde comer e saciai a vossa fome no pão da Palavra e da Eucaristia.
“Alimentados pelo Pão da Vida” é o tema da dinâmica proposta à nossa Diocese de Viseu pelo Secretariado Diocesano da Educação Cristã, para viver a Quaresma 2022 em espírito de fé, de oração e de penitência, em caminho sinodal para a Páscoa. É um projeto de vivência pedagógico, para “caminhar juntos” ao longo de quarenta dias, para viver e celebrar a Páscoa. Uma experiência que motiva para um crescimento espiritual firme, um discernimento sinodal de escuta e de diálogo sincero, que ajude os batizados e os buscadores de Deus a aprofundar o mistério da comunhão no serviço eclesial, na participação e realização do bem, na missão de proximidade evangélica e no envolvimento da vida das comunidades cristãs.
A escuta fiel da Palavra de Deus, a oração mais intensa, a penitência mais diligente, a esmola mais generosa serão o verdadeiro sinal de partilha fraterna. A alegria e o compromisso da missão serão o instrumento privilegiado para celebrar e viver o Mistério Pascal de Cristo.
Somos chamados a redescobrir o verdadeiro caminho quaresmal a partir da realidade concreta da vida das pessoas, das paróquias, das comunidades, das famílias, das crianças, dos jovens, dos pobres, dos doentes e dos indiferentes, num empenhamento de uma Igreja que integra e procura ser fermento de transformação do mundo.
A concretização de ações renovadoras, propostas para esta Quaresma pelo Papa Francisco, passa pelo seguinte desafio pastoral: “Não nos cansemos de fazer o bem: porque, a seu tempo, colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem com todos” (Gal 6, 9-10a).
A Quaresma é este caminho a percorrer para encontrar a verdade, seguir Jesus como seu mestre e identificar o compromisso da nossa vida com o projeto libertador de Jesus Cristo, o Salvador do Mundo.
A mensagem do Papa convida-nos a fazer uma sementeira abundante, para colhermos depois muito grão, que se transformará em pão da Palavra, da Eucaristia, da oração e da partilha fraterna e solidária com os pobres e indigentes da sociedade. Pela contemplação do mistério da Cruz, do sofrimento e da morte, somos conduzidos ao encontro da luz pascal, que irradia da pessoa de Jesus crucificado, morto e ressuscitado para iluminar a nossa vida.
Um caminho quaresmal a olhar para o sinal da Cruz e o crucificado, para Jesus, que foi levantado sobre a humanidade, como remédio para curar todas as feridas: “E, tal como Moisés levantou a serpente no deserto, assim o Filho do Homem seja elevado, para que todo aquele que acredita tenha a vida eterna” (Jo 3, 14-15).
A vivência espiritual da Quaresma, com todo o seu dinamismo de anunciar e escutar a Palavra de Deus, de convidar à oração pessoal e comunitária mais intensa, à celebração dinâmica e fervorosa dos Sacramentos da Eucaristia, da Reconciliação e da Unção dos Doentes, torna-se a verdadeira vida, que na mesa da comunhão nos prepara para sermos “Alimentados pelo Pão da Vida”.
A Quaresma e a Páscoa, mistério de Paixão e de Morte, são os dois braços da Cruz de Jesus, que se cruzam nas encruzilhadas da vida, para Ele se encontrar connosco e com a humanidade dispersa pelo mal e pelo pecado. Por isso, convida no mistério do bem operado pelo amor a proclamar com fé no Domingo de Ramos: “Hossana, tu reinarás; na Cruz, tu nos salvarás!”. Este é o caminho da libertação de uma humanidade esquecida de si mesma e de Deus. “Toda a nossa glória está na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Na celebração e vivência do Tríduo Pascal, participaremos vivamente na Ceia do Senhor, onde se oferece em alimento à multidão faminta, para, no mistério da sua Paixão e Morte na Cruz, encontrarmos o sentido da esperança luminosa para as dores e sofrimentos da humanidade afetada por tantas pandemias.
Na sua sepultura e no silêncio do seu repouso, com fé descobriremos a verdadeira semente da vida nova lançada à terra para dar muito fruto na manhã da Sua Ressurreição, na alegria da Sua Páscoa.
Com o desejo de sermos discípulos missionários, caminhamos muitas vezes desiludidos pela estrada de Emaús, como os discípulos, na procura esperançosa da surpresa do encontro com Jesus, que nos abre o coração, explica as Escrituras e se dá a conhecer ao partir do pão.
Valorizemos intensamente a Quaresma com a pregação, os atos de piedade, a penitência e a partilha fraterna com os mais necessitados para chegarmos à Páscoa com esta certeza: “Jesus acompanhou estes homens vazios, tristes, desanimados, desiludidos, mas com disponibilidade ao longo da estrada, no dia glorioso da Páscoa. É este caminhar juntos que inspira a ‘sinodalidade missionária’ e provoca a experiência do discernimento pastoral tão necessário para a renovação da Igreja” (carta Pastoral nº 6). Esta é a revelação do mistério pascal, que nos convida para a missão de pregar ao mundo “Cristo Crucificado, Ressuscitado”.
“É uma oportunidade e um desafio pastoral em dimensão qualitativa para fazermos juntos, na alegria e na esperança, a reflexão em caminho sinodal que nos ajuda a fazer uma transição criativa do Sacramento do batismo para o sacramento da Eucaristia. É um momento de reforçar a fé, renovar a esperança e fazer de novo um encontro vivo com a pessoa de Jesus Cristo na santíssima Eucaristia, fonte de vida, de graça e de amor” (D. António Luciano, Carta Pastoral 2021-2022, nº 1).
Meios para viver e celebrar juntos o caminho para a Páscoa de Jesus:
Quaresma, o tempo favorável da salvação e de convite à conversão sinodal
Unidade na fé e comunhão com Deus e os irmãos no seguimento de Cristo
Amor misericordioso de Deus, que perdoa e transforma a vida humana
Rezar com confiança pelas intenções da Igreja e pela paz na Ucrânia
Escuta atenta da Palavra de Deus e dos irmãos nas encruzilhadas da vida
Servir juntos, com alegria e disponibilidade, a Igreja em caminho sinodal
Manter a lâmpada da fé acesa pela oração, conversão, penitência e jejum
Alimentados pelo Pão da Vida, construamos a verdadeira Igreja de Cristo
Convidar ao empenhamento na caminhada sinodal diocesana, que conduz a Igreja à celebração festiva da Eucaristia e da Reconciliação.
Realizar o acolhimento festivo da Cruz e do ícone, símbolos da JMJ na Diocese, no mês de abril, leva-nos à valorização da Via Sacra, de atos de fé, piedade como o terço, vislumbrando a alegria pascal com as suas celebrações e a “Via Lucis”.
Promover gestos de acolhimento nas famílias, nas crianças, nos jovens, nos doentes e nos cuidadores.
Valorizar o Culto Eucarístico com Lausperene, as “Vinte e Quatro Horas para o Senhor” em todas as comunidades, orações comunitárias pedindo também a Deus o dom da chuva para regar os nossos campos ressequidos, fertilizar a terra e encher de água as nossas barragens. Fazer da Diocese de Viseu um mosteiro invisível a rezar pelo aumento das vocações sacerdotais e de plena consagração na Igreja.
Aprender a partilhar o pão com os pobres e mais necessitados de modo a assumir o compromisso da renúncia quaresmal com a seguinte finalidade: ajudar a Diocese de São Tomé e Príncipe, colaborar num projeto de Evangelização e formação dinamizado pelos Missionários Combonianos em Butembo, no Congo, e partilhar outra parte para as necessidades pastorais da Diocese de Viseu. Sejamos generosos e fraternos na partilha.
A conversão do nosso coração ao Senhor e estar disponível para os irmãos leva-nos a semear o bem, a cuidar da Igreja com amor e confiança, com capacidade de “pedir perdão” pelos escândalos e pecados do mundo, rezar pelas vítimas e acolher os que se sentem doentes, feridos, excluídos e abandonados. A Virgem Senhora das Dores, a mulher junto à Cruz de Seu Filho, com São João, o discípulo fiel e a intercessão paterna de São José, nos ensinem a olhar para Jesus na cruz, “Aquele que trespassaram”, porque do seu lado jorrou “Sangue e Água”, símbolo do Batismo e da Eucaristia.
† António Luciano, Bispo de Viseu | Viseu, 22 de fevereiro de 2022